Tradução

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Adoração e o Culto Congregacional

Um dos pontos distintivos entre algumas igrejas e denominações, além de certas doutrinas, é a forma (liturgia) do culto congregacional. Trata-se de um ponto tão importante na vida da igreja, que um pastor (em alta na mídia) afirmou que a igreja precisa urgentemente de uma reforma litúrgica(1). O presente trabalho pretende analisar a luz das Escrituras Sagradas esse tema tão desafiador; não tem a pretensão de esgotá-lo (missão “quase” impossível) e nem de ser a palavra final (e nem tenho a capacidade para tal proeza), contudo, nossa oração é de que estejamos expressando com fidelidade as verdades ensinadas na Palavra de Deus.
Muitos têm afirmado nos dias de hoje que a forma de como adoramos a Deus não é importante, e sim a disposição de nosso coração. A adoração muitas vezes tem sido mal compreendida, e seu conceito/significado tem se restringido aos momentos de reuniões de louvor ou cultos. Faz-se necessário um exame através das Escrituras para uma melhor compreensão acerca da adoração e do culto cristão.


Adoração
“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fóssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; Com o fim de sermos para louvor da sua glória...” (Efésios 1:4, 12a).

Adoração no A.T. é traduzida de algumas palavras, como hawâ/hishtahawâ, sagad, atsab, abîdâ e polhan. A que aparece mais vezes “hishtahawâ”, significa literalmente “prostrar-se até o solo”: “E Esdras louvou ao Senhor, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém! Amém! Levantando as suas mãos; e inclinaram suas cabeças, e adoraram ao Senhor, com os rostos em terra”. Uma outra palavra interessante para adoração no A.T. é “polhan”, literalmente, “serviço”: “Eis que o nosso Deus, a quem servimos (adoramos), é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei”. No grego, a palavra adoração é traduzida de proskuneo, equivalente do hebraico hishtahawâ, que no N.T. também pode significar tanto “prostrar-se” como “adorar”. (2) Outra palavra grega traduzida para adoração é “latreuo”, que significa “serviço”: “Porque a circuncisão somos nós, que servimos (adoramos) a Deus em espírito...” (Fp. 3:3). Nos dicionários da Língua Portuguesa(3), “adorar” significa “render culto, venerar, amar extremamente, reverenciar”.

A Bíblia ensina claramente que só a Deus podemos adorar, prestar culto (Mt. 4:10). Portanto, qualquer outro ser (inclusive nós mesmos) ou qualquer outra coisa que ocupe o centro de nossas vidas está tomando o lugar/a posição que pertence a Deus, e cometemos o pecado de idolatria.
A base da adoração é o nosso amor a Deus: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” (Dt. 6:5). A verdadeira adoração é resultado de nossa completa rendição ao Senhor: “Se me amais, quardai os meus mandamentos”; “Aquele que tem os meus mandamentos e os quarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” (Jo. 14:15,21).

A verdadeira adoração fundamenta-se no caráter de Deus. É a plena convicção de que Ele é digno de ser adorado por quem Ele é. A adoração genuína é aquela que permanece ainda que fosse possível a cessação de todos os seus benefícios terrenos às nossas vidas. Deus deve ser adorado não apenas por suas obras e benefícios que nos outorga, mas principalmente pelo seu caráter, pela sua própria pessoa. Uma leitura cuidadosa do livro de Jó nos revela esse outro aspecto. Satanás teve a intrepidez de afirmar ao próprio Deus que Ele não era digno de ser adorado. A adoração recebida pelos homens consistia na verdade de uma barganha, de uma troca: “porventura teme Jó a Deus debalde?” (Jó 1:9). Era uma farsa, uma mentira: “Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo o que tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face” (Jó 1:11). Satanás não acusava somente a Jó, mas afirmava que Deus só era adorado pelas suas obras (as bênçãos que nos dá). Sabemos a história de Jó, e oxalá tenhamos um coração como o dele. Jó amava realmente a Deus, e por isso o adorava (servia), não apenas pelo que recebeu de Suas mãos.
A nossa adoração a Deus é, de fato, a expressão de nosso viver que glorifica o seu nome; a adoração está relacionada com tudo o que estamos realizando. Paulo afirmou: “portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Co. 10:31). A adoração ou culto é definido pelo pastor Onésimo Figueiredo4 como todo “serviço que se presta a Deus”. Alguns aspectos da nossa adoração incluem, portanto, o louvor, ações de graça/gratidão, confissão, arrependimento, serviço, comunhão, estudo da Palavra e oração, mordomia do corpo e dos bens. A adoração não está mais restrita a um lugar, como no A.T. ao Tabernáculo ou a Jerusalém (Jo. 4:20)). Como crentes, somos templo do Espírito de Deus (1 Co. 3:16)) e a expressão de nossa adoração a Deus passa a ser o modo de vida que temos e não uma prática de uma vez ou duas por semana numa determinada igreja.



O Culto no Antigo Testamento
“Quão amáveis são os teus tabernaculos, Senhor dos Exércitos!” (Sl. 84:1).

É no livro de Levítico que encontramos os fundamentos da religião instituída por Iavé aos israelitas; trata-se de um “manual” do culto realizado no tabernáculo. Um culto rico em cerimônias, cujos símbolos e figuras apontavam para a pessoa e o ministério de Jesus Cristo. As cerimônias eram tanto coletivas (âmbito nacional) como também individual (realizado apenas pelo indivíduo sob orientação do sacerdote); algumas cerimônias eram diárias, semanais, mensais e anuais:
- Páscoa, a Festa das Colheitas e dos Tabernáculos;
- Festa dos Pães Asmos, Festa das Trombetas e o Dia da Expiação;
- Solenidade das Luas Novas (com toque de trombetas e oferecimento de sacrifícios);
- Holocausto contínuo (diariamente – manhã e tarde), oferecimento de Incenso;
- Sacrifícios Individuais, cerimoniais de Purificação, votos, entrega de primícias e dos dízimos.

O Culto no A.T. era extremamente elaborado, bem organizado, e através de cada cerimonial um objetivo era alcançado. Foi o próprio Deus quem definiu tudo como deveria ser. Muitos pensam que aquele culto não passava de meros rituais e cerimoniais desprovidos de significados para aqueles israelitas, pelo contrário, o que podemos compreender, principalmente com a ajuda do livro de Hebreus, é de que existiam ensinamentos e propósitos para o povo de Israel em cada ato daquele culto. Cada gesto, cada símbolo, cada cerimônia, apontavam para um propósito real na vida da nação e na vida de cada israelita em particular. O culto no A.T. tinha como objetivo revelar o caráter de Deus para o povo de Israel e era baseado na vida e no ministério de Jesus. Não sabemos até onde os israelitas tinham compreensão de tudo isso, mas o culto no Tabernáculo revelava as verdades divinas através de um nível básico para aquele povo.

A maior parte do tempo dos israelitas era dedicada ao culto no Tabernáculo, onde haveria a comunicação de Sua santidade. Essa comunhão constante com Iavé formaria a consciência da presença contínua do Senhor no meio deles. Tudo que era realizado ali era feito como estando na presença do Senhor (como de fato era); como afirmou um estudioso de Levítico, Sr. Jonathan dos Santos(5): “não se tratava de invocá-Lo. Ele estava ali. A ênfase era em festejar Sua presença, adora-Lo, buscar seu perdão e a expiação provida por Ele”.
O que podemos aprender do culto judaico para os dias de hoje? O culto no A.T. era completamente teocêntrico. Era um culto que produzia “vida” para os seus participantes, pois comunicava-lhes as verdades divinas e formava-lhes a convicção de que Deus estava no meio deles. Esse também deve ser um claro ensinamento para nós cristãos. Israel era figura da igreja, e assim como Israel era sustentado no deserto e foi separado das outras nações, hoje a igreja se encontra no mundo, mas separada dele, e é totalmente dependente da provisão divina, como Israel no deserto. O que salta aos nossos olhos quando estudamos o culto no A.T., e pensamos em o que Deus quer nos ensinar hoje, é de que submetamos ao seu propósito de santificação: “... santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv. 19:2).
Naquele culto, o propósito da santificação seria alcançado, tanto separando Israel das coisas impuras como pelo poder da presença de Iavé no meio deles. Nesse sentido, a igreja deve levar bastante a sério a realização de seus programas de culto. Se quiser realizar um culto a Deus onde haja produção de “vida”, santidade e edificação de seus membros, as verdades divinas precisam ser comunicadas com fidelidade, ou seja, a Palavra de Deus deve assumir a centralidade no culto. Analisemos algumas situações do A. T. aonde a Palavra de Deus foi desviada ou parcialmente obedecida, gerando sérias implicações na adoração e no culto prestado:

· Lv. 10:1-3: "E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o Senhor, o que não lhes ordenara..."Gostaria que todos os leitores desse comentário tivessem já realizado um estudo sério do livro de Levítico. Embora julgado por alguns apenas como um livro de coletânia de informações irrelevantes para quem já está na era da "graça", da igreja, negligenciam que existem princípios que devemos nos atentar, bem como aponta a obra maravilhosa da redenção humana através de Jesus Cristo. Bem, quero destacar alguns pontos nesse episódio envolvendo os filhos de Arão: (1) Eles eram sacerdotes e crentes no Senhor. Não eram incrédulos, e mesmo assim foram julgados. Não estamos nos referindo aqui a salvação, e sim as obras (1 Co.3:13-15). A obra de Deus é por demais grandiosa, pois custou a vida de seu Filho na cruz, por isso não podemos levá-la levianamente ou “brincar” com as coisas de Deus; (2) Eles desobedeceram ou se desviaram da Palavra de Deus: “... não lhes ordenara”. O resultado de quando a Palavra de Deus não ocupa a centralidade do culto ou de nossa vida é acharmos que somos “auto-suficientes” ou que podemos “contribuir” ou “melhorar” alguma coisa que Deus nos ordenou realizar. Observe que quando a Palavra de Deus é deslocada do centro do culto, a tendência humana é “incrementar” com algo novo, que julga ser “bom”; (3) Eles trouxeram algo impuro: “ofereceram fogo estranho...”. Interessantes algumas analogias que certas pessoas fazem hoje para defender o uso “disso ou daquilo” no culto – dizem elas- Deus criou a música, portanto, todos os ritmos musicais são de Deus. Mas Deus também não criou o fogo? Não é de supor que todos os “tipos” de fogo sejam do Senhor? Porque então fogo estranho para o Senhor?

· Is. 1:11-15: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos... não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene... Por isso, quando estendei as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”. Aqui está a verdadeira descrição de uma ortodoxia morta. Meros rituais sem significados, mecanizados, intensa atividade religiosa sem produção de santidade prática. A “ortodoxia morta” não é a liturgia conservadora, como pensam alguns, acusando-as de serem repressoras do sentimentalismo e das emoções humanas. Bem que é possível existir igrejas onde a liturgia seja conservadora e ainda assim ser de “ortodoxia morta”, mas não por conta da liturgia, e sim pelo afastamento da Palavra de Deus.


· Amós 4: 4-5: “Vinde... e transgredi... e multiplicai as transgressões; e cada manhã trazei os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos ... e oferecerei o sacrifício de louvores do que é levedado, e apregoai as ofertas voluntárias, publicai-as; porque disso gostai, ó filhos de Israel, disse o Senhor Deus”. Quanto mais nos afastamos da verdade, menos desejamos a Palavra de Deus. Israel vivia uma espécie de religião vazia. Atividades religiosas que alimentavam um estereótipo de povo religioso, mas sem Deus. A conseqüência é aprofundar ainda mais no pecado; Sem a Palavra de Deus não há luz para o arrependimento, não há alimento espiritual, e consequentemente não há mudança ou transformação de vidas. Aqueles israelitas gostavam dos rituais, deleitavam-se neles, mas eram rituais vazios praticados mecanicamente.



O Culto Cristão Congregacional
Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hb. 10:25).


O culto congregacional é um meio pelo qual Deus nos abençoa. O culto é, portanto, algo essencial para a vida da igreja. Quando o crente não freqüenta a sua “igreja”, ele estará perdendo bênçãos espirituais que Deus tem outorgado através da comunhão com nossos irmãos de fé. Embora nenhuma reunião congregacional possa substituir a aplicação individual ao estudo da palavra (sistemática e devocionalmente) e à oração, o culto é de real valor para a vida cristã. Entretanto, o culto que prestamos a Deus só lhe é agradável, aprazível, se corresponder a Sua vontade (Rm. 12:1-2), e abençoador aos participantes, se somente comunicar-lhes as verdades divinas, todo o conselho de Deus.





Culto Cristão: Criativo e Novo – Sempre!
“Falando entre nós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração. Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef. 5:19-20).


Quando os crentes se reúnem para celebrar a Cristo, eles o fazem porque têm uma vida cristã real, que é produto de uma fé num Senhor vivo. Isso faz com que cada ato, cada momento do culto se torne especial, com significado. É criativo e novo não por que traz a cada culto uma inovação diferente, mas porque Deus, através de sua Palavra proclamada, sempre realiza algo novo em nossas vidas. Somos edificados e abençoados pela Palavra de Cristo. Uma séria acusação que se faz a respeito das igrejas ortodoxas (fundamentalistas/conservadoras) é de que essas igrejas impedem o agir do Espírito Santo, bem como inibem a expressão da totalidade do ser humano no louvor a Deus, pois alegam que o homem não é apenas intelecto/raciocínio, mas é também emoções/sentimentos, e esses são tolhidos numa liturgia ortodoxa. Acredito que os que assim pensam ainda não estão totalmente convencidos da suficiência da Palavra de Deus para as nossas vidas.

O coração do salvo está repleto de alegria e prazer. Sua satisfação é completa em Cristo e em Sua Palavra. Cada culto é uma nova oportunidade para agradecer (gratidão/ações de graça) ao Senhor por tudo quanto Ele tem realizado. Como então suas emoções e sentimentos estão inibidos? Na verdade, nossos sentimentos apenas não estão fora de controle, em êxtase, mas submetidos à nossa própria faculdade, adorando ao Senhor tanto com a mente quanto com o coração (Rm. 12:1-3). A nossa satisfação e contentamento está em agradar a Deus e não em satisfazer a nossa própria carne.
Mas devemos ter muito cuidado com o estereótipo! Não é apenas por uma igreja possuir uma liturgia conservadora que significa realmente que ela está centrada na Palavra de Deus. Ouvir falar de uma igreja conservadora, onde se primava por um culto tradicional, mas que segundo o relato, existiam sérios problemas de ordem espiritual e moral, como membros envolvidos em caso de adultério e negócios irregulares (e parece que nada se fazia para corrigir esse mal), reuniões de oração que dificilmente tinham mais de 10 membros participando, além de partidarismos e desavenças familiares. Tudo isso é triste e envergonha o Evangelho.



A Primazia da Palavra de Deus no Culto
Que pregues a Palavra...” (2 Tm. 4:2)


Com o advento da Reforma Protestante as Escrituras assumiram novamente a primazia nas reuniões dos crentes para cultuar a Deus. Segundo o Dr. Leland Ryken(6), os “atos do culto enfatizados pelos puritanos e reformadores eram preponderantemente atos literários: ler a Bíblia, meditar no seu significado, ouvir sermões, e conversar com os outros sobre a apreensão de cada um da doutrina baseada nestas atividades”. Dois pontos a se considerar: a primazia da pregação no culto e que essa pregação seja a exposição bíblica. Argumentando a respeito da primazia da pregação no culto, o Dr. Martyn Lloyd-Jones(7) afirma: “... a pregação é a tarefa primordial da Igreja, está alicerçada desse modo sobre as evidências dadas pelas Escrituras, bem como sobre as evidências confirmatórias e corroborativas da história da Igreja”. Citado por John MacArthur(8), o Dr. Douglas Webster expõe como era a pregação bíblica nas igrejas: “A pregação bíblica era teocêntrica, revelava o pecado, tocava no ego e transformava vidas; era completamente o oposto dos sermões rápidos e informais de hoje que cristianizam a auto-ajuda e servem mais para entreter do que convencer do pecado”.

Ai está a razão da primazia da pregação bíblica no culto: ela é o principal instrumento pelo qual o Espírito de Deus opera em nossas vidas. O apóstolo Paulo nos afirma que o Evangelho é poder de Deus para a salvação daquele que crê (Rm. 1:16), não há outro caminho (Rm. 10:17); substituí-lo, alterá-lo,acrescentando ou retirando dele, é um ato abominável, condenável e réu de juízo divino (Ap. 22:19).


A Simplicidade do Culto Cristão
E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At. 2:42).

Os anabatistas e os reformadores, ao contrário da igreja dominante da época, sempre procuraram estabelecer o culto dentro do compasso da Palavra de Deus. O pensamento deles é bem traduzido pelas palavras do puritano Richard Cox(9): “Sou da opinião de que todas as coisas na igreja deveriam ser puras, simples e removidas o mais longe possível dos elementos e pompas deste mundo”. Um dos princípios bíblicos mais negligenciados nos dias de hoje para o culto cristão é o de 1 Coríntios 14:40 para que tudo seja feito “decentemente e com ordem”. A reforma teológica necessariamente implicou em reforma litúrgica, e isso já foi feito.

Não existe uma liturgia definida, estática. A liturgia de uma igreja atual não precisa ser necessariamente idêntica a de uma igreja do passado ou de uma igreja vizinha. A presença de um coral, a preferência por determinados hinos e cânticos, a utilização de instrumentos sonoros são elementos que podem dar características distintas às liturgias. Às vezes, a liturgia de uma congregação rural difere, pela presença ou ausência de certos elementos, da liturgia de sua igreja-sede. Em Ef. 5:18-21, Cl. 3:16-18 e 1 Ts. 5:16-22, os elementos fundamentais, encontrados nessas passagens bíblicas, que constituem um culto congregacional, , são nominadas pelo pastor Figueiredo(10) como sendo louvor, oração, ação de graças, pregação, ensino, submissão e regozijo espiritual. O que na verdade está se fazendo hoje é que muitas igrejas estão retornando aos moldes antigos da missa católica e de cultos pagãos com outros “padrões” de esculturas, imagens e tradições que substituíam as Escrituras. Esses novos padrões se apresentam na forma de comportamentos, como o sensualismo, misticismo, transes, hipnoses, despertados e motivados pelas músicas dançantes, técnicas persuasivas, ritmos alucinantes, mantras, etc.



Elementos que prejudicam à nossa adoração a Deus
Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?” (1 Co. 5:6).


01. Materialismo: A avareza, a ganância, o amor desenfreado pelo dinheiro é uma das mais sérias infecções que tem contaminado as igrejas: 1 Tm. 6:10; Hb. 13:5. A doutrina da prosperidade tem apresentado um “outro evangelho”; bastante popularizada, essa doutrina tem sido um vergonha para o Evangelho, abnegando da mensagem da cruz, da santificação, da submissão e rendição completa ao senhorio de Cristo. Ela apregoa uma mensagem de exaltação ao ego, fazendo do homem o senhor e de Deus o seu “capacho”, uma espécie de “gênio da lâmpada”. Quando a igreja é dominada pelo “espírito” do materialismo, ela deixa de investir na evangelização de almas para se tornar uma “igreja amigável” da sociedade, assim seus templos ficam mais cheios e consequentemente mais rica ela se torna. Apesar do materialismo se desenvolver de várias formas, que vai desde a acepção de pessoas (excluindo os pobres) até a ostentação da luxúria, está subjacente a todas elas a adoração ao mesmo deus: o dinheiro.

02. Mundanismo: Não se trata mais de um flerte, isso foi na época de Tozer, Spurgeon, e mais recentemente Lloyd-Jones. Agora, em nossos dias, a igreja está celebrando sua lua-de-mel com o mundanismo. Os templos hoje estão parecidos com as casas de shows, e não me refiro apenas a estrutura física e suas parafernálias, como palco, luzes, fumaça de gelo seco, etc., mas também a sua ideologia, sua cultura. O mundanismo entrou tão sutilmente e agora está arraigada como um sistema que promove a satisfação “daqueles que só procuram gozos materiais”.( 11)

03. Pragmatismo: Uma espécie de pensamento ou noção que consiste na valorização de algo que seja útil e propicie alguma espécie de êxito ou satisfação.(12) O pragmatismo não é ruim em si mesmo em todas as situações, entretanto, quando aplicado como princípio norteador da vida de uma pessoa ou da igreja entra diretamente em confronto com as escrituras Sagradas. Na prática, funciona como “o fim justifica os meios”. O desejo de ver a igreja crescer (que pode ser um desejo sadio), não pode passar por cima da soberania divina. É Deus quem dá o crescimento (At. 2:47; 1 Co. 3:6,7), através da proclamação de Seu Evangelho. Não podemos lançar mãos de artifícios, como técnicas de marketing, manobras de manipulação psicológica, entretenimento para conquistar as multidões. O nosso dever é proclamar com fidelidade o Evangelho de Jesus Cristo e testemunhar de nossa fé em Cristo onde estivermos.

04. Filosofia Contemporânea: Alguns teólogos e pastores modernos aplicam essa filosofia ao evangelho e à vida da igreja com o termo conhecido como “contextualização” (não encontrada nos dicionários). Essa expressão traz a idéia de “atualizar”, no caso aqui, a mensagem do evangelho, de forma a se adaptar a atual realidade da sociedade. A igreja de filosofia contemporânea é aquela que adaptou/acomodou/conformou a sua mensagem (conteúdo bíblico) e a sua metodologia à cultura na qual está inserida. Para tal proeza é necessário lançar mão da psicologia para entender melhor as angústias, as ambições, os conflitos existenciais da sociedade, e assim negam a suficiência das Escrituras para o governo e direção de todos os aspectos inerentes ao ser humano; recorrer as técnicas gerenciais e de marketing empresariais para “conquistar” o maior números de “clientes”; o misticismo para persuadir e amedrontar, e dessa forma segurar a pessoa pelo “medo”.

Alguns indivíduos em seus argumentos favoráveis a essa nova reforma litúrgica, produzida especialmente nas igrejas que adotaram algum modelo eclesiástico de crescimento (MCI), como o G12, o G5 (Igreja com Propósitos), Rede Ministerial, Comunidade Vineyard, têm afirmado que os cultos “contemporâneos” têm contribuído/facilitado para que um maior número de pessoas encontre a Cristo, e que essas igrejas têm permanecido fiéis às doutrinas fundamentais da fé cristã. Não podemos desconsiderar totalmente que algumas pessoas têm realmente um encontro genuíno com Cristo nessas igrejas, mas a questão a considerar é qual o preço a pagar? Ao contrário do que muitos pensam, muitas igrejas têm hoje abandonado doutrinas essenciais, como por exemplo, a divindade de Cristo, e abraçado o ecumenismo(13). Quanto às doutrinas, se não são abandonadas, são relegadas a um segundo plano na vida da igreja, mas a um nível tão secundário que ficam “submersas”, pois as “doutrinas dividem”.(14) O que vale perguntar é se realmente está ocorrendo conversões genuínas ou um mero crescimento social ou psicológico?



Considerações Finais


O culto não é uma festa preparada para entreter os membros da igreja, e nem é mais espiritual quando provoca as emoções ao ponto de embotar a razão de seus participantes. O culto é o serviço que prestamos a Deus, é a nossa adoração sincera à sua Pessoa; e somente ocorre em conformidade com a sua Palavra. O culto congregacional é um momento da nossa adoração, e é essencial para a vida da igreja. O desvio ou a obediência parcial da Palavra de Deus leva-nos a uma falsa adoração, e consequentemente prestamos um culto distorcido ao Senhor.





Notas

1. "Selecting Worship Music", Rick Warren: “Você precisa fazer combinar a música com o tipo de pessoa que Deus quer que sua igreja alcance... A música que você usa 'posiciona' sua igreja na cidade ou bairro. Ela define quem você é... Ela vai determinar o tipo de pessoa que você atrai, o tipo de pessoa que você mantém e o tipo de pessoa que você perde"; numa visão ainda mais abrangente para o serviço (culto) da igreja, ele afirma: “A primeira Reforma esteve relacionada com as crenças. A Reforma de agora precisa estar relacionada com o comportamento ... Já tivemos uma Reforma, o que precisamos agora é de uma transformação."

Citado em “Igreja dirigida pelo Espírito ou orientada por propósitos? – parte 1” De Paul Proctor (disponível em http://www.espada.eti.br/).

2. Dicionário Internacional do Antigo Testamento, pgs. 434-436; 1027; 1155; 1715.

3. Dicionários da língua Portuguesa: Aurélio, Antônio Olinto e Silveira Bueno.

4. “O Culto”, Rev. Onésimo Figueiredo (disponível em http://www.monergismo.com/).

5. “O Culto no Antigo Testamento”, Jonathan F. dos Santos, pgs. 178, 182. Sobre a finalidade do culto no A.T. de transmitir a Israel o caráter divino, ele afirma: “Assim, por meio da realização dos atos de culto no Tabernáculo, e pela permanência constante do povo diante da face do Senhor, Deus poderia comunicar-lhes Seu próprio caráter. É como se dá com um pai e seu filho. Convivendo com ele, ensinando-o, ajudando-o, influenciando-o, o pai procura transmitir-lhe seu próprio caráter. Não era diferente em relação a Deus e seus filhos. Sua santidade, Sua retidão, Sua bondade, Seu amor e as demais qualidades do caráter divino deviam ser absorvidas pela nação israelita, para que, finalmente, ela mesma fosse uma bênção para todos os povos” (destaque meu).


6. “Santos no Mundo”, Leland Ryken, pg. 134.

7. “Pregação e Pregadores”, D. Martyn Lloyd-Jones, pg. 18.

8. “Com Vergonha do Evangelho”, John F. MacArthur, Jr. Pg. 139. Ainda sobre a necessidade de manter-se firme à pregação fiel das Escrituras, o Pr. MacArthur acrescenta: “Portanto, pregar a Palavra deve ser o âmago de nossa filosofia de ministério. Qualquer outra coisa é substituir a voz de Deus por sabedoria humana. Filosofia, política, humor, psicologia, conselhos populares e opiniões humanas jamais conseguirão realizar o que a Palavra de Deus realiza. Talvez sejam coisas interessantes, informativas, divertidas e, às vezes, úteis, mas não são espiritualmente transformadoras e tampouco são da alçada da igreja. A tarefa do pregador não é ser canal para a sabedoria humana; ele é a voz de Deus que fala à congregação. Nenhuma mensagem humana vem com a chancela da autoridade divina, apenas a Palavra de Deus. Francamente não entendo os pregadores que estão dispostos a abdicar tão grande privilégio” (pg. 30).

9. “Santos no Mundo”, Leland Ryken, pg. 121.

10. “O Culto”, Rev. Onésimo Figueiredo (disponível em http://www.monergismo.com/).

11. Dicionários da língua Portuguesa: Aurélio, Antônio Olinto e Silveira Bueno.

12. Dicionários da língua Portuguesa: Aurélio, Antônio Olinto e Silveira Bueno.

13. “Pelo Lado de Fora É uma Igreja Evangélica - Por Dentro Está Adornada com Chocantes Símbolos Ocultistas” (disponível em http://www.espada.eti.br/).

14. Rick Warren: “Evite as Escrituras ofensivas e as advertências divisivas. Remova a ênfase nos absolutos bíblicos e em "doutrina", pois atrapalham a unidade e a mudança contínua". Citado no artigo “Igreja dirigida pelo Espírito ou orientada por propósitos?” – parte 2, de Paul Proctor (disponível em http://www.espada.eti.br/).



Luciano Hérbet Oliveira Lima
Membro da Igreja Bíblica Congregacional em Vitória da Conquista-Ba
(lholim@gmail.com)