Tradução

domingo, 28 de dezembro de 2008

2 Tessalonicenses 2: 6-8

L. Hérbet

E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda”. (2 Ts 2:6-8 ACF).

Muitos teólogos e biblicistas em geral afirmam que 2 Tessalonicenses 2:6-8 é a mais difícil passagem sobre as últimas coisas ensinada na Bíblia. São inúmeras interpretações a seu respeito nas mais variadas correntes escatológicas. A diversidade de interpretação é tão ampla que o único ponto em comum entre os intérpretes parece ser a dificuldade encontrada para explicar o texto em questão. Examinaremos, brevemente, essa passagem bíblica nas principais teorias escatológicas.

Os pesquisadores bíblicos têm concentrado seus esforços para definir as expressões “o que o detém” (verso 6) e “há um que agora o detém” (verso 7). A primeira expressão refere-se a um agente retentor impessoal, enquanto no verso 7 o agente é pessoal. O apóstolo Paulo instruiu aos crentes de Tessalônica que, naquele momento, algo ou alguma pessoa estava impedindo que o Iníquo (ou Anticristo) se manifestasse.

A maior corrente escatológica, a pré-tribulacionista, acredita que o arrebatamento da igreja ocorrerá antes da tribulação. Esse período, portanto, será precedido por uma grande apostasia e inaugurado com o “rapto” de todos os salvos desse mundo, seguido imediatamente pelo advento do Anticristo. Trata-se de uma interpretação futurista; seus defensores olham para frente, para o futuro, pois crêem que os eventos mencionados pelo apóstolo ainda não ocorreram. A apostasia é entendida como um abandono da fé bíblica pela igreja visível. Acredita-se que a igreja atual representa à igreja de Laodicéia (Ap.3:14-22), caracterizada pelo pouco amor ao Salvador, apegada ao materialismo e ao mundo. Os defensores dessa linha escatológica estão convencidos que a igreja moderna está abrindo as suas portas para o Anticristo.

Para a maioria pré-tribulacionista, o “homem da iniqüidade" ainda não se manifestou devido à presença do Espírito Santo na igreja. O Espírito Santo é o agente restritivo citado no texto paulino. Boa parte desse grupo acredita que o Espírito Santo também se retirará do mundo juntamente com a igreja, fechando assim a era da plenitude dos gentios. Sem a presença e/ou ação ativa do Espírito Santo na terra, o Iníquo então se revelará ao mundo como um messias, dotado de inteligência singular e poderes extraordinários, trará ordem e paz ao caos que a humanidade enfrenta. Dentro deste grupo, como nas demais correntes escatológicas, a figura enigmática do Anticristo é tida como uma pessoa literal ou mesmo uma espécie de sistema de governo. Ainda no pré-tribulacionismo, destaca-se os dispensacionalistas, em sua maioria fundamentalistas bíblicos, que fazem distinção entre Israel e a Igreja quanto às promessas e propósitos de Deus no Novo Testamento; Quanto à parousia (segunda vinda de Cristo), afirma-se que sucederá em duas etapas: no primeiro momento, Cristo voltará somente para a igreja (um encontro nos ares) e, posteriormente, em um segundo momento, Ele voltará com a igreja, para toda a terra.

Muitos dos que defendem a posição pós-tribulacionista também afirmam ser o Espírito Santo a pessoa que retém a aparição do Anticristo, mas não da mesma maneira ensinada no pré-tribulacionismo. Na interpretação pós-tribulacionista, a igreja passará pela grande tribulação. Nesse caso, o Espírito Santo estará presente e ativo na igreja também durante todo esse tempo. Entende-se que Ele exercerá uma ação de restringir o iníquo até certo momento, segundo sua soberana vontade no cumprimento de seus propósitos. A partir daí, voluntariamente cessará tal atividade, permitindo o surgimento do Anticristo ao mundo. O Espírito de Cristo então fortalecerá todos os eleitos, sustentando cada um deles durante as perseguições e martírios que acontecerão nesse período.

Os teóricos do pós-tribulacionismo entendem que o retorno de Cristo (a parousia) só acontecerá após a apostasia e a revelação do anticristo. Ambos os eventos (apostasia e o advento do Anticristo) são condições que necessariamente antecedem a volta de Cristo; Para os pós-tribulacionistas a parousia não pode acontecer se antes não houver a apostasia e a manifestação do Anticristo, conforme interpretam o versículo 3: “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição...”.

Vale a pena destacar ainda que muitos de nossos irmãos, conhecidos como pós-milenistas, acreditam que a apostasia e o anticristo já ocorreram, juntamente com tantos outros sinais descritos na Bíblia como sinais que apontam para a o retorno iminente de Cristo. Os teóricos desse grupo, ao contrário dos pré-tribulacionistas, voltam seus olhos para trás, para o passado, pois identificam os registros escatológicos da Bíblia com os eventos históricos que já ocorreram. Alguns teólogos dessa corrente identificam a apostasia de 2 Tessalonicenses 2:6 como sendo a dispersão dos judeus que ocorreu por volta do ano 70 d.C. por ocasião da destruição de Jerusalém, e o anticristo, como o imperador romano Nero. Para alguns teólogos, o próprio apóstolo Paulo era “aquele que o detém”, enquanto a sua mensagem, o evangelho de Cristo destinado a judeus e gentios, era de fato o elemento neutro ou impessoal da expressão “aquilo que o detém”. A missão paulina de levar o evangelho também aos gentios foi cumprida, e com isso a força restritiva que impedia a manifestação do anticristo foi cessada.

Já os amilenistas ensinam que o Anticristo não veio no passado, como crêem os pós-milenistas. O Anticristo está por vir e que o mundo está cada vez menos sob influência cristã (amilenismo clássico). Segundo Kuiper: “A Igreja não será tirada misteriosamente da terra antes da grande tribulação começar, mas estará na terra com o chamado para perseverar (Mateus 24:22)”. Para esse grupo, Satanás já esta sob prisão (Ap. 20:1-3), o que não significa inativo, mas limitado em sua ação contra a igreja. Segundo a teoria amilenista, o milênio corresponde todo o período entre a primeira (nascimento, morte e ressurreição de Jesus) e a segunda vinda de cristo, o que significa que já estamos nele. Sobre a passagem paulina em 2 Ts. 2: 6-8, Spykman explica: “Mas, podemos dizer que: Paulo se refere a esta influência restritiva como sendo um poder e também como sendo uma pessoa (...) É como se houvesse uma represa que retém a torrente das impetuosas águas que o anticristo está por soltar sobre este mundo. Esta última manifestação se mantém suspensa “para que [o anticristo] possa ser revelado em seu tempo.” Quando se cumprir o ciclo desta ação restritiva terá lugar à batalha final de vida ou de morte”.

Vimos superficialmente as principais posições em relação ao texto de 2 Tessalonicenses 2:6-8. Necessariamente, o leitor deve estudar com mais profundidade as definições de cada corrente escatológica. O autor desse artigo vê embasamento bíblico nos argumentos de cada teoria, entretanto, nenhuma delas, responde plenamente todas as questões escatológicas que já foram levantadas. O autor tem assumido as posições pré-milenista, pré-tribulacionista e dispensacionalista, mas tem estudado com muito zelo as outras teorias, principalmente o amilenismo.

Com exceção dos pós-milenistas, os outros teóricos crêem que o mundo está sendo preparado para um novo e terrível advento: a aparição do Iníquo ou Anticristo. Em breve se completará a plenitude da iniqüidade. Mas se o Anticristo ainda não se manifestou pessoalmente, o ministério da iniqüidade já está em operação, preparando o seu caminho. Muitos “anticristos” já apareceram (1 Jo.2:18 ). O mundo jaz no maligno (1 Jo.5:19). Entretanto, o Espírito Santo tem protegido de forma eficaz os eleitos de Deus. As Escrituras afirmam que nenhuma pessoa resgatada por Cristo pode ser tomada das mãos do Senhor. O conhecimento dessa imutável verdade é capaz de produzir plena segurança e consolo aos discípulos de Jesus.

Referências Bibliográficas:

CARRIKER, C. T. Paulo, o Apóstolo Apocalíptico: 2 Tessalonicenses 2.6-7. Revista Fides Reformata, vol. 7 nº 1, p. 45-58. Acesso em 28/12/08 em: www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_VII__2002__1/FIDES_REFORMATA-045-058.pdf

KUIPER, D. H. Amilenismo ou A Verdade do Retorno do Senhor Jesus. Acesso em 28/12/08 em: http://www.monergismo.com/textos/escatologia_reformada/amilenismo_kuiper.htm
MARSHALL, I. H. I e II Tessalonicenses – Introdução e Comentário. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova: São Paulo, SP. 2007.

RODRIGUES, Z. Arrebatamento Pós-Tribulacionista: Uma Exegese De 2 Tessalonicenses 2:1-3. Acesso em 28/12/08 em: http://przwinglio.blogspot.com/2008/06/arrebatamento-ps-tribulacionista.html

SPYKMAN, G. J. A Consumação. Acesso em 28/12/2008 em: www.iglesiareformada.com/Aconsuma__oSpykman.doc

WIERSBE, W. W. Novo Testamento – Comentário Bíblico expositivo, vol. II. Santo André, SP: Geográfica Editora, 2006.