Tradução

sábado, 17 de março de 2007

O "Espírito" Laodicense e o Movimento de Crescimento de Igrejas

M. Martins


Laodicéia: cidade da província romana da Ásia Menor (hoje, atual porção da Turquia Asiática) edificada sobre sete montes, no rio Lico, famosa pelos amplos muros, cujo nome lhe foi posto por Antíoco II em homenagem à sua esposa, Laodice. Segundo Orlando Boyer¹, 'a cidade foi destruída por um terremoto em 62 A.D. e reconstruída por seu próprio povo, o qual se orgulhava de o fazer sem pedir auxílio do estado'. Era, portanto, uma das cidades asiáticas mais prósperas, cujas riquezas provinham da 'excelência de suas lãs'¹. 'Era uma das cidades mais ricas de toda a Ásia e o centro bancário mais importante da época, onde também eram cunhadas (fabricadas) as moedas . Muitos judeus viviam lá. A cidade também tinha uma escola de medicina, onde foi descoberto um pó (colírio) para a cura de doenças nos olhos. Perto da cidade, havia um grande número de fontes de águas termais (mornas), desagradáveis para beber e que levavam ao vômito quem as bebesse assim. As ovelhas, criadas na região, produziam a lã mais fina conhecida na época, na cor preta. A partir dela, eram feitos vestidos luxuosos e tapetes'².


Segundo consta de Colossenses 4:16, o apóstolo Paulo enviou uma epístola à igreja desta cidade orientando aos colossenses que também a lessem. De uma simples leitura de Apocalipse 3:14-22, vemos que a igreja laodicense refletia a riqueza e o orgulho da cidade: 'Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta' (3:17a). Porém Jesus refere-se a ela da seguinte forma: 'e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu' (3:17b). É importante notar como Jesus toma o exemplo das águas mornas de Laodicéia para demonstrar reprovação às suas obras: 'Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca' (3:15-16). Mas Ele não os deixa sem uma esperança: 'Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te' (3:18-19).


Laodicéia é o retrato da maioria das igrejas dos nossos dias: é uma igreja rica e que de nada sente falta materialmente. Entretanto, é uma igreja espiritualmente 'morna' e pobre, que não consegue ver a crescente apostasia e os desvios doutrinários a que está sendo conduzida. Infelizmente, a cegueira da busca de prosperidade e crescimento a qualquer custo é a marca dos tempos atuais. A sociedade busca isso, as empresas buscam isso, as pessoas buscam isso... E assim a igreja da nossa era retrata essa infatigável corrida na busca do sucesso pessoal e da opulência, com prejuízos imensuráveis à sã doutrina e ao próprio evangelho, cujos valores são relegados a um segundo (para não dizer último) plano. Para que cumprir o IDE se agora já podemos oferecer diversos atrativos para conduzir as pessoas às igrejas? Para que pregar o evangelho, se temos nas mãos as práticas mercantilistas de crescimento de igreja?


É desolador ver esse quadro de crescente apostasia e mundanismo dentro das igrejas. O pior ainda é ver as antigas denominações, outrora incansáveis defensoras da pureza e simplicidade do evangelho de Cristo e da sã doutrina, sendo influenciadas pelo espírito laodicense de crescimento a qualquer custo (ou melhor: inchaço) e pouco compromisso com a Palavra de Deus. Creio que essa situação seja irreversível, mas espero alcançar alguns poucos corações com um clamor bíblico: ARREPENDA-TE! Ouça já a voz daquele que diz: 'Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas' (Ap. 3:18). Amém!
Autor: Marcos A. F. Martins

NOTAS:
¹ Pequena Enciclopédia Bíblica, Editora Vida, p. 375.
² Cf. Reinaldo M. Lüdke (in: http://www.ielb. org.br/pem/ cadernos/ caderno14/ estudo10. html).