Tradução

sábado, 14 de abril de 2007

A Santidade de Deus

Arthur W. Pink

"Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo..." (Apocalipse 15:4).

Somente Ele é independente, infinita e imutavelmente santo

Muitas vezes Ele é intitulado "O Santo" nas Escrituras. Sim, porque nEle se acha a soma total de todas as excelências morais. Ele é pureza absoluta, que nem mesmo a sombra do pecado mancha. "...Deus é luz.." (1 João 1:5). A santidade é a excelência propriamente dita da natureza divina: o grande Deus é "...glorificado em santidade..." (Êxodo 15:11). Daí lermos: "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a vexação não podes contemplar..." (Habacuque 1:13).
Como o poder de Deus é o oposto da fraqueza inata da criatura, como a Sua sabedoria está em contraste com o menor defeito de entendimento ou com a menor insensatez, assim a Sua santidade é a própria antítese de toda mancha ou corrupção moral. No passado Deus designou cantores em Israel para "que louvassem a beleza da santidade" (Crônicas 20:21). "O poder é a mão ou o braço de Deus, a onisciência os Seus olhos, a misericórdia as suas entranhas, a eternidade a Sua duração, mas a santidade é a Sua beleza" (S. Charnock). É isto que acima de tudo, torna-O amorável aos que foram libertos do domínio do pecado.

Grande ênfase é dada a esta perfeição de Deus

"Deus é com mais freqüência intitulado Santo do que Onipotente, e é mais exposto por esta parte da Sua dignidade do que por qualquer outra. É fixada ao Seus nome como um epíteto, mais do que qualquer outra. Você jamais o vê expresso. "Seu poderoso nome" ou "Seu sábio nome", mas Seu grande nome e, acima de tudo, Seu santo nome. Esse é o maior titulo de honra: neste ultimo transparecem a majestade e a venerabilidade do Seu nome". (S. Charnock). Como nenhuma outra, esta perfeição é celebrada diante do trono do céu, bradando os serafins: "...Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos..." (Isaías 6:3). Deus mesmo coloca em distinção esta perfeição: "Uma vez jurei por minha santidade" (Salmo 89:35). Deus jura por Sua "santidade" porque esta é uma expressão do Seu ser, expressão mais completa que qualquer ou coisa. Eis porque somos exortados: "Cantai ao Senhor, vós que sois seus santos, e celebrai a memória da sua santidade" (Salmo 30:4). "Pode-se dizer que este atributo é transcendental e que, por assim dizer, permeia os demais e lhes dá brilho. É o atributo dos atributos" (J. Howe, 1670). Assim lemos sobre "... a formosura do Senhor..." (Salmo 27:4), que não é outra que "... a Beleza da sua santidade..." (Salmo 110:3).

"Visto como essa excelência parece se colocar acima de todas as outras perfeições de Deus, assim ela constituí a glória destas; como é a glória da Deidade, assim é a glória de cada uma das perfeições da Deidade; como o poder de Deus é a energia das Suas perfeições, a Sua santidade é a beleza delas; como todas seriam fracas sem a onipotência divina para sustentá-las, seriam todas desgraciosas sem a santidade para adorná-las. Se esta se maculasse, todas as demais perderiam a sua honra; seria como se o sol perdesse sua luz – no mesmo instante perderia seu calor, seu poder, sua virtude geradora e vivificante. Como no cristão a sinceridade é o brilho de todas as graças, em Deus a pureza é o os esplendor de todos os Seus atributos. Sua justiça é santa, sua sabedoria é santa, Seu braço poderoso é um "braço santo" (Salmo 98:1), Sua verdade ou palavra é uma "santa palavra" (Salmo 105:42). Seu nome que expressa todos os Seus atributos juntos, é santo – Salmo 103:1" (S. Charnock).
A santidade de Deus se manifesta em Suas obras

"Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras" (Salmo 145:17). Nada senão o que é excelente pode proceder dEle. A santidade é o padrão de todas as Suas ações. No principio Ele declarou que tudo o que tinha feito "era muito bom" (Gênesis 1:31), e não poderia ter feito o que fez se nisso houvesse algo imperfeito ou impuro. O homem foi feito "reto" (Eclesiastes 7:29), à imagem e semelhança do seu Criador. Os anjos que caíram foram criados santos, pois se nos diz que "... não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação..." (Judas, versículos 6). Sobre satanás está escrito: "Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti" (Ezequiel 28:15).

A santidade de Deus se manifesta em Sua Lei

Essa Lei proíbe o pecado em todas as suas variantes – nas suas modalidades mais refinadas, e nas mais grosseiras, os intentos da mente como a contaminação do corpo, o desejo secreto como o ato abertamente praticado. Pelo que lemos: "... a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Romanos 7:12). Sim, "... o mandamento do Senhor é puro, e alumia os olhos. O temor do Senhor é limpo, e permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente" (Salmo 19:8-9).

A santidade de Deus se manifesta na cruz

De maneira espantosa, e, contudo, a mais solene, a expiação demonstra a santidade infinita de Deus e Seu ódio ao pecado. Quão odioso para Deus há de ser o pecado, a ponto de castigá-lo até ao limite extremo do seu merecimento, quando o imputou ao Seu Filho! "Nem todos os vasos do juízo já derramados ou por derramar sobre o mundo ímpio, nem a sentença irrevogável pronunciada contra os demônios rebeldes, nem o gemido das criaturas condenadas demonstram o ódio de Deus ao pecado, como o demonstra a ira de Deus derramada sobre o Seu Filho. Nunca a santidade divina parece mais bela e mais amorável do que na hora em que o semblante do Salvador ficou por demais desfigurado em meio aos estertores da Sua agonia mortal. Ele próprio o reconhece no Salmo 22. Quando o Senhor afastou dele o Seu risonho rosto e Lhe fincou no coração aguda faca, provocando Seu terrível brado, "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" (vers. 1). Ele adora esta perfeição – "Tu és santo" (vers.3) S. Charnock.

Posto que Deus é santo, Ele odeia todo e qualquer pecado

Ele ama tudo quanto está em conformidade com as suas leis, e detesta tudo que lhes é contrario. Sua palavra declara expressamente: "... o perverso é abominação para o Senhor..." (Provérbios 3:32). E ainda: "Abomináveis são para o Senhor os pensamentos maus..." (Provérbios 15:26). Segue-se, pois, que Ele necessariamente tem que punir o pecado. Do mesmo modo como o pecado requer a punição de Deus, exige também o Seu ódio. Deus perdoa muitas vezes o pecador; nunca, porém, perdoa o pecado; e o pecador só é perdoado com base no fato de que Outro levou sobre Si o castigo que lhe era devido; sim, pois, "... sem derramamento de sangue não há remissão" (Hebreus 9:22). Razão pela qual se nos diz: "... o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos" (Naum 1:2). Por um pecado Deus expulsou do Éden os nossos primeiros pais. Por um pecado toda a posteridade de Cão caiu sob maldição que permanece sobre ela até ao dia de hoje. Por um pecado Moisés foi impedido de entrar em Canaã, o servo de Elizeu foi castigado com lepra, Ananias e Safira foram eliminados da terra dos viventes.

Temos aqui prova da divina inspiração das Escrituras

Os não regenerados não crêem realmente na santidade de Deus. O conceito que eles têm do caráter de Deus é inteiramente unilateral. Eles esperam de coração que a Sua misericórdia sobrepuje tudo mais. "... pensavas que era como tu..." (Salmo 50:21) é a acusação que Deus lhes faz. Eles pensam somente num "deus" segundo o padrão de seus corações maus. Daí permanecerem eles no caminho de uma exacerbada insensatez. A santidade atribuída pelas Escrituras à natureza e ao caráter de Deus é tal que demonstra com clareza a sua origem super-humana. O caráter atribuído aos deuses dos antigos e do paganismo moderno é justamente o inverso daquela imaculada pureza que pertence ao Deus verdadeiro.

Um Deus inefavelmente santo, que tem a mais intensa aversão a todo pecado, jamais foi inventado por um dos decaídos descendentes de Adão. O fato é que nada torna mais manifesta a terrível depravação do coração do homem e a sua inimizade contra o Deus vivo, do que expor diante dele Aquele Ser único que é infinita e imutavelmente santo. A idéia que o homem faz de pecado limita-se praticamente ao que o mundo chama de "crime". Tudo o que fica aquém disso pode ser abrandados como '"defeitos", "enganos", "fraquezas", etc. E mesmo quando se admite a existência de pecado, apresentam-se escusas e atenuastes.

O "deus" que a imensa maioria dos cristãos professos "ama" é visto como alguém muito parecido como um ancião indulgente, que pessoalmente não tem prazer nas loucuras, porém tolerantemente fecha os olhos para as "indiscrições" na mocidade. Mas a Palavra diz: "... aborreces a todos os que praticam a maldade" (Salmo 5:5). E mais: "Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias" (Salmo 7:11). No entanto, os homens se recusam a dar credito a este Deus e rangem os dentes quando o Seu ódio ao pecado lhes é enfática e fielmente apresentado. Não, como o homem preso ao pecado jamais teria criado o lago de fogo no qual seria atormentado para todo o sempre, muito menos haveria a probabilidade dele inventar um Deus santo.

Sendo que Deus é santo, a aceitação da parte dEle, com base nas ações das criaturas, é completamente impossível

Uma criatura caída pode mais facilmente criar um mundo, do que produzir algo capaz de receber aprovação dAquele que é pureza infinita. Podem as trevas morar como a luz? Pode o Ser imaculado sentir prazer com o "trapo da imundícia"? (Isaias 64:6). O melhor que o homem pecador pode produzir vem manchado. Uma arvore contaminada não pode dar bom fruto. Deus se negaria a si próprio, envileceria as Suas perfeições, se tivesse por justo e santo aquilo que não o é em si mesmo; e nada é santo, desde que tenha a mínima mancha do que seja contraria a natureza de Deus. Mas, bendito seja o Seu nome, pois, aquilo que a Sua santidade exigiu, a Sua graça supriu em Cristo Jesus, nosso Senhor! Todo pobre pecador que correu para Ele em busca de refugio, foi e permanece aceito "no Amado" (Efésios 1:6). Aleluia!

Posto que Deus é santo requer-se de nos que nos aproximemos dEle com a máxima reverencia

"Deus deve ser em extremo tremendo na assembléia dos santos, e grandemente reverenciado por todos os que o cercam" (Salmo 89:7). Portanto, "Exaltai ao Senhor nosso Deus, e prostrai-vos diante do escabelo de seus pés", na postura da mais profunda humildade, prostrai-vos. Quando Moisés ia aproximar-se da sarça ardente, disse Deus: "... tira os teus sapatos de teus pés..." (Êxodo 3:5). É preciso servi-lO "com temor" (Salmo 2:11). A exigência que Deus fez a Israel foi: "... serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo..." (Levítico 10:3); Quanto mais tomados de temor ficarmos por Sua inefável santidade, mais aceitável será o nosso acesso a Ele.

Visto que Deus é santo, devemos querer amoldar-nos a Ele

Seu mandamento é: "... sede santos, porque eu sou santo" (1Pedro 1:16). Não somos obrigados a sermos onipotentes ou oniscientes como Deus é, mas temos que ser santos, e isto em toda a nossa "... maneira de viver" (1 Pedro 1:15). "Esta é a maneira primordial de honrar a Deus. Glorificamos a Deus pelas atitudes de elevadas admiração, pelas expressões eloqüentes, pelos pomposos serviços de adoração, porém não tanto como quando aspiramos a conversar com Ele com espírito livre de mácula, e a viver para Ele vivendo como Ele vive" (S. Charnock). Então, como só Deus é a origem e a fonte da santidade, busquemos zelosamente dEle a santidade; seja a nossa oração diária no sentido de que Ele nos "santifique em tudo..."; e todo o nosso "espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo"(1 Tessalonicenses 5:23).

Os Atributos de Deus p.58-65
Autor: A.W.Pink / Editora PES.

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