Tradução

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

O Nome de Cristo


(Mateus 1:18-25)
J. C. Ryle (1816 – 1900)

Os Nomes conferidos ao nosso Senhor
Notemos os dois nomes conferidos a nosso Senhor, nestes versículos. Um deles é Jesus, o outro é Emanuel. O primeiro desses nomes descreve o seu ofício, o segundo, a sua natureza. Ambos são profundamente interessantes.

O Nome JESUS significa “SALVADOR”
Trata-se do mesmo nome Josué no AT. Foi dado a nosso Senhor porque “ele salvará o seu povo dos pecados dele”. Esse é o ofício especial do Senhor Jesus. Ele nos salva da nossa culpa do pecado, lavando-nos a alma em Seu próprio sangue expiatório. Ele nos salva do domínio do pecado ao conferir-nos, no próprio coração, o Espírito Santificador. Ele nos salva da presença do pecado quando nos tira deste mundo, para irmos descansar com Ele. E, finalmente, Ele nos salva das conseqüências do pecado ao nos proporcionar um glorioso corpo ressurreto, no último dia. O povo de Cristo é bendito e santo! Eles não são salvos das tristezas, da cruz e dos conflitos. Porém, são salvos do pecado, para todo o sempre. São purificados da culpa, mediante o sangue de Cristo. São habilitados para o céu mediante o Espírito de Cristo. Nisso consiste a salvação. Mas, aquele que se apega ao pecado ainda não é salvo.

JESUS é um nome que infunde muita coragem aos que vivem sobrecarregados de pecados.
Aquele que é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores poderia ter-se feito conhecido, com toda a legitimidade, por algum título mais pomposo. Contudo, não quis faze-lo. Os dirigentes deste mundo com freqüência se têm chamado por títulos como “grande”, “conquistador”, “herói”, “magnífico” e outros semelhantes. Mas o Filho de Deus contentou-se em chamar-se de “SALVADOR”. As almas que desejarem a salvação podem achegar-se ao Pai, com ousadia, tendo acesso por meio de Jesus Cristo, com toda confiança. Esse é o seu ofício, e nisso Ele se deleita – mostrar-se misericordioso. “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo. 3:17).

JESUS é um nome peculiarmente doce e precioso para aqueles que são crentes
Com freqüência, esse nome os tem beneficiado, quando o favor de reis e de príncipes teria sido ouvido por eles com pouco interesse. Esse nome tem-lhes dado a paz interior que o dinheiro não pode comprar. Esse nome lhes tem aliviado as consciências pesadas, conferindo descanso a seus corações entristecidos. O livro de Cantares de Salomão refere-se à experiência de muitos crentes, ao asseverar: “como unquento derramado é o teu nome” (Ct:1:3). Feliz é a pessoa que confia não meramente em vagas noções a respeito da misericórdia e da bondade de Deus, mas no próprio “JESUS”.

EMANUEL significa “Deus conosco”
O outro nome, que aparece nestes versículos, de maneira alguma é menos interessante do que aquele que já destacamos. Esse é o nome conferido a nosso Senhor em vista da sua natureza, como “Deus que se manifestou em carne”. Ele é chamado de Emanuel, ou seja, “Deus conosco”. Devemos cuidar para que sejam bem claras as noções que formamos sobre a natureza e a pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo. Esse é um ponto que se reveste da mais capital importância. Deveríamos ter bem claro, em nossas mentes, que nosso Senhor é perfeito Deus tanto quanto perfeito homem. Se chegarmos a perder de vista esse fundamento da verdade, poderemos cair vítimas de temíveis heresias. O nome “Emanuel”, pois, é que se reveste de todo o mistério que o circunda. Jesus é o “Deus conosco”. Ele assumiu a natureza humana igual à nossa, em todas as coisas, excetuando somente a tendência para o pecado. Mas, embora Jesus estivesse “conosco” em carne e sangue humanos, ao mesmo tempo Ele nunca deixou de ser o verdadeiro Deus.

A Humanidade e a Divindade de Cristo
Quando lemos os evangelhos, por muitas vezes descobrimos que nosso Senhor era capaz de ficar cansado, de padecer fome e sede, como também podia chorar, gemer e sentir dor como qualquer um de nós. Em tudo isso podemos ver “o homem” Jesus Cristo. Percebemos a natureza humana que ele tomou para Si mesmo ao nascer da virgem Maria. Entretanto, nesses mesmos quatro evangelhos, descobriremos que nosso Salvador conhecia os corações e os pensamentos dos homens, exercia autoridade sobre os demônios, podia fazer os mais espantosos milagres apenas com uma palavra, era servido pelos anjos, permitiu que um dos seus discípulos O chamasse de “Deus meu” e, igualmente, disse: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo.10:30). E tudo isso, vemos “O Deus eterno”. Vemos aquele que “é sobre todos, Deus bendito para todo sempre.Amém” (Rm.9:5).
Você deseja dispor de um seguro fundamento para a sua fé e esperança? Nesse caso, jamais perca de vista a divindade do seu Salvador. Aquele em cujo sangue você foi ensinado a confiar é o Deus todo-poderoso. Toda a autoridade foi dada a Jesus Cristo, no céu e na terra. Ninguém poderá arrancar você da mão dEle. Se você é um verdadeiro crente em Jesus, não permita que o seu coração se perturbe e atemorize.
Você deseja contar com um doce consolo nas ocasiões de sofrimento e tribulação? Nesse caso, nunca perca de vista a humanidade do seu Salvador. Ele é o ser humano Jesus Cristo, que se deitou nos braços da virgem Maria quando era um pequenino infante, e que conhece os corações humanos. Ele deixa-se sensibilizar pelo senso das nossas fraquezas. Ele experimentou, pessoalmente, as tentações lançadas por Satanás. Ele precisou enfrentar a fome. Ele derramou lágrimas. Ele sentiu dor. Confie nEle o tempo todo, em todas as suas aflições. Ele nunca haverá de despreza-lo. Derrame diante dEle, em oração, tudo quanto estiver em seu ser, e nada Lhe oculte. Ele é capaz de simpatizar profundamente com o seu povo.
Que estes pensamentos se aprofundem em nossas mentes. Bendigamos a Deus pelas encorajadoras verdades contidas no primeiro capítulo do Novo Testamento. Esse capítulo nos fala de Alguém que salva “o seu povo dos pecados deles”. Porém, ainda não é tudo. Esse capítulo revela-nos que o Salvador é o “Emanuel”, o próprio Deus conosco; Deus manifesto em carne humana, idêntica à nossa. Essas são boas novas. São autênticas boas novas. Alimentemos os nossos corações com essas verdades, por meio da fé, juntamente com ações de graça.

Texto Extraído do livro Meditações no Evangelho de Mateus, de J. C. Ryle. 2ª Edição, 2002. Editora Fiel.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Limpando o Quintal de Nossa Casa

Luciano Hérbet
(Juízes 6)


Parece claro que Deus usava os povos vizinhos como instrumentos de disciplina para Israel. Seu grande amor para com os israelitas não permitia que os abandonassem em seus próprios pecados, mas utilizava desse meio para despertar a consciência dos israelitas quanto à Sua existência e seu cuidado. Na maioria das vezes, somente quando eles sentiam na “pele”, é que clamavam ao Senhor. Deus sempre os recebia e os acolhia, voltando a derramar sobre eles inúmeras bênçãos. Queridos, nós não precisamos chegar ao ponto da dor para clamarmos a presença do Senhor; precisamos desenvolver uma comunhão com Deus e desfrutar de sua maravilhosa companhia, e jamais desejaremos sair de sua presença.

Sempre existe alguém que nos dá o recado de Deus quando andamos por outros caminhos – o profeta que vem para nos exortar ou confrontar (não afrontar) biblicamente pode ser a igreja local, o pastor, pais ou amigos – o importante é que Deus sempre desperta as nossas mentes com a sua Palavra, de modo que nunca estamos “inocentes” quanto às nossas escolhas.


Aprendendo através de Gideão
Aprendemos algo muito bonito na história de Gideão: o nosso amado Mestre está sempre disposto a trabalhar em nossa vida. Jesus sempre vem ao nosso encontro. É interessante que o Verbo ou o Logos, ainda não encarnado aqui, contudo está ativo e diretamente agindo na história de seu povo. Ele aparece aqui como o Anjo do Senhor (manifestação teofânica, assim como apareceu a Abraão) para libertar o seu povo do jugo midianita através de Gideão.

A Bíblia não entra em detalhes, mas dá para supor que até o momento Gideão era um crente sem muito compromisso quanto às coisas do Senhor. Vejamos como no verso 13 a indagação de Gideão parece apontar um falta de relacionamento sólido com Iavé: “Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, porque tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas...”. Esse questionamento quanto ao senhorio e presença de Deus na vida dos israelitas parece jogar a culpa de toda a desgraça que eles estavam vivendo no próprio Deus. Nos dias de hoje, muitos de nós culpamos a Deus por algum fracasso ou desilusão que venhamos a sofrer, e esse fato se expressa de várias maneiras, desde as nossas murmurações até a rebeldia declarada (desobediência) ao Senhor.

Nossa Suficiência em Cristo
Gosto muito dessa expressão, ela revela sinteticamente que nada é necessário fora de Cristo para as nossas vidas. Nenhuma novidade, nenhum movimento, nenhuma “segunda bênção” para nos fazer melhores crentes.
Um outro ponto de destaque aqui é o fato de que aos seus próprios olhos, Gideão era um covarde ou um fraco e incapaz. O medo dele era tanto que estava malhando o trigo no lugar onde se faz o vinho, provavelmente com medo de ataques midianitas, ele utilizava desse artifício como uma estratégia de se proteger. A Bíblia nos diz que apesar de seu medo, Deus o escolheu. Que lição maravilhosa temos aqui: O Senhor escolhe a Gideão para ser um líder de seu povo, apesar de seus tantos “ai, Senhor meu”. É justamente na força da presença de Deus que Gideão se torna em um homem de coragem, valoroso. Um verdadeiro líder é forjado pelo poder do Espírito de Deus. Aí está Gideão sendo transformado e capacitado pelo Espírito de Cristo. Portanto, o caminho para o sucesso na vida não está em nossas próprias capacitações, mas sim no “Eu hei de ser contigo”.
Fiquei bastante triste quando me deparei com um anuncio (e infelizmente abraçado pela maioria das igrejas batistas) de um seminário de capacitação de liderança cristã (The Global Leardership Summit), sendo que vários de seus preletores nem sequer são crentes, como o Sr. Bono Vox (Banda U2). Apesar de todo o engajamento social que pessoas como Bono, Bill Gates e outros podem ter, o que eles poderiam oferecer para os crentes num seminário para formação de líderes cristãos? Querem fazer da Grande Comissão um evangelho social do tipo Madre Tereza de Calcutá?

Limpando o quintal de casa – Santificação
Ao que parece, até o verso 21, Gideão ainda não tinha consciência que estava diante do próprio Jesus (o Anjo do Senhor). Inicialmente poderia ser para ele um profeta, mas diante daquelas palavras vivas e poderosas que inflamaram o seu coração, ele crê que são de origem divina e deseja entregar uma oferta. A cena seguinte faz Gideão se estremecer: após preparar a oferta, diante de seus olhos o próprio “anjo do Senhor” faz subir fogo sobre a rocha consumindo toda a oferta. O Mensageiro de Deus desaparece diante dele, que agora reconhece que estava diante do anjo do Senhor. Abertos finalmente os seus olhos, ele clama ao Senhor, temendo por sua vida. Confortado pela palavra celestial de que não morreria, Gideão então edifica um altar e o chama de “O Senhor é Paz”.

Deus convocou a Gideão para a sua obra, mas assim como Ele fez com Gideão, Deus quer fazer conosco; e para ingressarmos neste maravilhoso ministério, que é ser cooperador de Deus, precisamos antes limpar o quintal de nossa casa. Gideão tinha no seu quintal, na casa de seu pai, um ídolo. Qualquer coisa em nossa vida que tem se tornado um ídolo tem que ser retirado, e em seu lugar construir um altar para o Senhor. Não podemos permitir que coisa alguma ocupe o centro de nossas vidas, a não ser o próprio Senhor Jesus.
Podemos chamar esse processo de santificação, e somente assim é que podemos receber a unção que nos garante a vitória. Vamos deixar toda a impureza e pecado, para que sejamos revestidos pelo Espírito de Deus, e assim estaremos prontos para “tocar a trombeta” do avivamento. Meu querido amigo, Deus quer te usar no serviço de seu reino, mas a tua casa já estás limpa? Busque a santidade em sua vida, aprendendo acerca da vontade de Deus em sua Palavra (a Bíblia) e Deus mesmo te capacitará.

A Perseverança dos Santos

Luciano Hérbet

A doutrina da Perseverança dos Santos significa que todos aqueles que foram salvos, mediante o sacrifício remidor de Jesus Cristo, não podem perder a salvação eterna, ou seja, são impossibilitados de cair definitivamente de seu estado de graça. Objetivamente podemos concluir que “uma vez salvo, sempre salvo”. Trata-se de uma doutrina aceita por poucos hoje em dia – basicamente só é defendida pelos calvinistas. A igreja católica e a maior parte dos evangélicos negam a doutrina da perseverança dos santos e a colocam na dependência da vontade humana. Nenhuma doutrina ou ensino devem ser aceitos pelos crentes simplesmente porque são “abraçados” pela maioria, e sim ao passar pelo crivo das Escrituras Sagradas.

Provas Bíblicas a respeito da Perseverança dos Santos:

01. O que acontece na REGENERAÇÂO dura para sempre:
  • “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5:24);
  • Fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (I Pedro 1:23);
  • Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente” (I João 3:9).


Você consegue imaginar alguém que passou da morte para a vida voltar novamente à morte? Se fosse possível, então teríamos um sério problema com a descrição bíblica de vida eterna. Um crente não receberá a vida eterna quando Jesus voltar, ele já a tem hoje – desde o momento em que seu nome foi escrito por Deus no livro da vida (Ap. 21:27). Aceitar a idéia de que o verdadeiro crente pode perder a salvação é pensar que, além do lápis, Deus também precisaria de uma borracha para escrever e apagar o nome daquele que ganha e perde a vida eterna. A graça de Deus, a sua divina semente, que é incorruptível e permanente, produz no crente a vida eterna e o livra do juízo divino. Conferir: Jo. 10:27 a 29; II Ts. 3:3; Rm. 8:1; Ef. 4:18.

02. Há uma UNIÃO INDISSOLÚVEL entre Cristo e o crente:

  • Quem nos separará do amor de Cristo? (...) nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8:35 a 39);
  • “... e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará de minhas mãos” (João 10:28);
  • Jesus... tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (João 13:1).

A união de Cristo com a sua igreja é indivisível, incapaz de ser dissociada. Algo pode trazer tanto conforto e regozijo para o crente como estar ligado para sempre com o seu Salvador? Conforme as Escrituras todos os crentes compartilham da vida de Cristo pelo seu Espírito. Tornamo-nos, através dessa união que é permanente, o próprio corpo de Cristo. Conferir também em Cl. 3:3,4; Rm. 5:10.

03. As promessas de Deus revelam a SEGURANÇA da nossa salvação em Cristo:

  • Aquele que crê no Filho tem a vida eterna...” (João 3:36);
  • Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24);
  • Sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação” (I Pedro 1:5).


Deus nos reconciliou consigo através de Jesus Cristo. Através dessa nova aliança Deus nos assegura a salvação. As promessas de Deus não são revogáveis e certamente se cumprirão integralmente. É a obra do Espírito Santo em nossas vidas que nos dá garantia de nossa salvação. Ele completa a sua obra em nós (Fp. 1:6). Não é a vontade, o esforço ou o pelejar do homem, mas o poder de Deus, que nos preserva para a vida eterna. Como afirmou um teólogo do século passado: “Porque Deus é que persevera e não nós, é que somos salvos”. Conferir em: Is. 32:40; Rm. 11:29.


04. A INTERCESSÃO de Jesus Cristo preserva a nossa fé:

Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hebreus 7;25);
  • Eu bem sei que sempre me ouves...” (João 11:42);
  • Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça...” (Lucas 22:32).

  • Cristo em seu sacrifício já pagou o preço de nossos pecados. Fomos justificados por Ele. Agora, como Sumo Sacerdote, nosso mediador, intercede por nós junto ao Pai. Suas orações são eficazes e Ele vive para interceder por aqueles que Lhe foram dados pelo próprio Pai. A graça de Jesus é que preserva e fortalece a nossa fé, ou seja, perseveramos na fé como resultado da intercessão, do ministério sacerdotal de Jesus. O Senhor Jesus também nos enviou o seu Santo Espírito para ser o selo ou garantia (penhor) de nossa salvação. Conferir também em: I Co. 1:22.


    Algumas objeções quanto à doutrina da Perseverança dos Santos

    Uma das acusações mais comuns a doutrina da Perseverança dos Santos é de que a mesma conduz a negligência quanto aos deveres espirituais e até mesmo à imoralidade. Trata-se aqui de mal compreensão da doutrina, quando concluem que “uma vez salvo posso fazer o que quiser, pois estou salvo mesmo”. O próprio nome já diz tudo: perseverança dos SANTOS, isso quer dizer que ela garante ao crente uma perseverança na santidade e não no pecado. Hebreus 12:14 afirma contundentemente: “... a santidade ... sem a qual ninguém verá ao Senhor”. Tampouco essa doutrina negligencia a responsabilidade do homem, embora deixa claro que o homem é guardado pela graça divina. Gostaria de focalizar as objeções baseadas nos textos bíblicos daqueles que acusam a doutrina da Perseverança dos Santos de ser contrária as Escrituras Sagradas. Examinemos os textos mais citados:
    • Mateus 24:12,13; 1 Timóteo 1:19; Hebreus 6:4-6

    Uma análise mais detalhada dessas passagens revela claramente que essas pessoas que se apostataram da fé não eram salvas. Estavam com os crentes, participavam das mesmas coisas que eles, eram abençoados igualmente em muitos aspectos, eram chamados de crentes, mas não eram verdadeiramente crentes. Talvez a conclusão errônea de muitos que acreditam que o crente pode perder a salvação se dê por causa das observações em experiências e não na Palavra de Deus. Eu explico: uma pessoa membro de igreja por muitos anos, ou até mesmo pregadores do Evangelho, abandonam a sua fé e acabam morrendo nessa situação, então conclui-se que crentes podem perder a salvação. Isso é análogo a afirmação de que crentes também podem ser possessos por demônios, conclusão baseada nas experiências de membros de igreja que manifestaram possessão demoníaca. A Bíblia afirma reiteradas vezes que muitos se apostataram da fé, mas em lugar algum ela afirma que se trata dos eleitos. João deixa isso muito claro: “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1 Jo. 2:19).

    Acredito que o texto mais difícil seja o de Hebreus 6:4-6, contudo observe que o autor dessa carta se refere nesse capítulo a dois grupos de pessoas: O primeiro, nos versos 4 a 6, ao grupo de pseudocristãos (pessoas não regeneradas que estão nas igrejas) – pessoas de grandes realizações no campo da igreja (da religião), contudo são pessoas que não se renderam completamente a Jesus. Comparar com Mateus 7:22,23.
    O autor da carta se volta agora (verso 9) para os verdadeiros crentes: “mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores...”. Bem, concluímos então, a partir das Escrituras, que os eleitos de Deus permanecerão firmes até o fim, sustentados pela graça divina. Isso não quer dizer que um crente não possa cair, mas que ele não morrerá nesse estado. Que a doutrina da Perseverança dos Santos não nos instiga a negligência e sim que nos encoraja à santificação, que se torna um conforto e segurança para todos aqueles que verdadeiramente amam o Senhor Jesus Cristo.


    Bibliografia:
    01. Dagg, John L. Manual de Teologia; 3ª Edição; Editora Fiel, 2003.
    02. Berkhof, Louis. Teologia Sistemática; 5ª Edição; Editora Luz para o Caminho, 1998.
    03. Kennedy, D. James. Verdades que Transformam; 3ª Edição; Editora Fiel, 1998.