Tradução

sábado, 29 de dezembro de 2007

A Rejeição dos Réprobos

João Calvino
A rejeição dos réprobos procede também da vontade divina, não da presciência de suas obras más

“Tratemos agora dos réprobos, de quem o Apóstolo fala também na passagem já indicada, associando, ao mesmo tempo, os eleitos [Rm 9.13]. Ora, como Jacó, sem ainda nada merecer por suas obras, é recebido à graça; assim também Esaú, ainda de nenhum inclinado ao delito, é dito em ódio. Se volvermos nossos olhos para as obras, fazemos grave injuria ao Apóstolo, como se ele não percebesse como algo óbvio aquilo que para nós é claro. Com efeito, que ele não percebeu é fácil de ser provado, uma vez que ele insiste expressamente, dizendo que não havia ainda nada de bom ou de mau a ser mostrado de que um é eleito e o outro rejeitado; de sorte que assim prova que o fundamento da predestinação divina não está nas obras.”

Além disso, quando o Apóstolo levantou a objeção se porventura Deus é iníquo, não faz uso desta objeção que lhe teria sido a mais firme e a mais evidente defesa da justiça, a saber, que Deus recompensou a Esaú segundo sua maldade; ao contrario, contentou-se com solução diversa: que os réprobos são suscitados para este fim, ou seja, para que por meio deles a glória de Deus resplandeça.

Finalmente, ele adiciona a cláusula: “Deus se compadece de quem quer compadecer-se e endurece a quem quer endurecer” [Rm 9.18]. Vês como o Apóstolo entrega ao mero arbítrio de Deus a um e a outro? Portanto, se não podemos assinalar outra razão por que Deus usa de misericórdia para com os seus, a não ser porque assim lhe apraz, tampouco disporemos de outra razão por que rejeita e exclui aos demais, senão pelo uso deste mesmo beneplácito ou cumula de misericórdia a quem quis, com isso são os homens admoestados a não buscar nenhuma outra causa que esteja fora de sua vontade.


(João Calvino / As Institutas - Edição Clássica – v.3 - p. 407 - 408)
Postado por Flávio Teodoro

2 comentários:

Flávio Teodoro disse...

"Objeção ao Supralapsarianismo"

Muitos se apóiam neste texto de Calvino para defender o conceito supralapsariano em oposição ao conceito infralapsarianismo

Discordo por alguns motivos claros que encontramos no próprio texto:

1. As referencias de Calvino são a homens já caídos em Adão. Deus na sua Presciência os completou já caídos e não independentes de Adão.

2. O ato pecaminoso de Adão afetou a sua descendência; isso implica no fato de que, independente das ações dos descendentes, eles já eram vistos como culpados não pelos pecados deles próprios, mas por que o Representante Legal deles por eles pecou!

3. Tomando os pontos acima como referencia, notamos que Deus ao predestinar para a condenação não leva em consideração o pecado dos próprios condenados como causa primaria de culpa, mas Deus leva em consideração o pecado de Adão como a causa primaria da culpa da Humanidade!

Observação: o termo (Presciência) usado no primeiro ponto pretende assinalar que Deus conheceu de antemão às pessoas e não as obras das mesmas. Quanto ao conhecimento das obras o termo seria (Onisciência).


Não desconsidero a vontade Divina como a causa primaria de tudo quanto acontece. Porém, como A. W. Pink coerentemente disse: “Lembre-se que Deus é o Criador do ímpio, não de sua impiedade; Ele é o Autor de sua existência, mas não Aquele que infunde o seu pecado”; em "A Soberania de Deus na Reprovação".


Considerações finais: Deus faz o que quer com a humanidade caída! Salva uns com misericórdia e condena outros com justiça!

“Não tenho o direito de fazer o que quiser com o que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?” Mateus 20:15


A doutrina bíblica sustenta que:

1. Que a Escritura traça uma relação de Adão com seus descendentes, e de Cristo com os Seus Eleitos.

2. A pena denunciada contra Adão, caso desobedecesse, tem se tornado efetiva no caso de cada um dos seus descendentes.

3. O pecado, a morte e todo o mal penal vieram sobre o mundo inteiro devido o pecado de Adão.

astrosnomundo disse...

Flávio,
Obrigado pelo comentário, sempre pertinente. A própria história tem registrado os danos causados pelo hipercalvinismo, principalmente no que se refere ao clamor pelas almas.
L. Hérbet.