EXCLUÍDA A JACTÂNCIA
"Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente, Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão. Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei." - Romanos 3:27 - 31
Minha observação final sobre esta questão consiste em assinalar que o grande apóstolo nunca se limita a meras declarações positivas, porém muitas vezes condescende em argumentar, em entrar em polemica, porque sente que deve fazê-lo. Digo isso porque acho que atualmente há muito pensamento frouxo, falso e fraco sobre a questão de polêmica e de argumentação em debate. Ao que parece, a atitude de muitos é: "Não queremos argumentos. Dê-nos a mensagem positivamente, e não se incomode com os outros conceitos". É importante que compreendamos que, se falarmos desse modo, estaremos negando as Escrituras. As Escrituras estão repletas de argumentação, de polêmica. E o apóstolo vê a necessidade disso aqui. Tendo acabado de fazer o seu arrazoado e tendo chegado àquele clímax tremendo sobre a doutrina da expiação, subitamente pergunta: "Onde está logo a jactância?" "É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios?" "Anulamos, pois, a Lei? Fazendo isso ele está argumentando, está discutindo; isso é pura polêmica.
A reprovação da polêmica na Igreja Cristã é uma questão muito grave. Todavia essa é a atitude da época em que vivemos. Hoje a idéia predominante em muitos círculos da Igreja é a de que não devemos importar-nos com essas coisas. Contanto que sejamos cristãos de algum modo, de qualquer modo, tudo estará bem. Não discutamos doutrina, sejamos cristãos unidos e falemos do amor de Deus. Nisso consiste realmente toda a base do ecumenismo. Desafortunadamente, essa mesma atitude está se insinuando também nos círculos evangélicos mais firmes, e muitos dizem que não precisamos ser demasiado precisos nessas coisas. Entretanto, se alguém começar a fazer objeções a claras declarações acerca da doutrina da expiação, estará começando a argumentar, a discutir. É importante termos claro entendimento da doutrina da expiação. "Ah, mas você está começando a argumentar agora", dizem. "Você não deve argumentar, isso perturba, isso vai causar divisão entre as pessoas".
O que estou tentando mostrar é que, se vocês sustentarem essa opinião, estarão criticando o apóstolo Paulo, estarão dizendo que ele estava errado, e ao mesmo tempo, estarão criticando as Escrituras. As Escrituras argumentam, debatem, discutem, estão repletas de polêmica. Vocês não poderão ler esta Epístola aos Romanos, ou a Epístola aos Gálatas ou na verdade qualquer destas Epístolas, sem perceberem isso claramente. Sejamos claros no que queremos dizer. Isso não é argumentar por argumentar, não é manifestação de espírito de contestação; não é condescender em preconceitos pessoais. Isso as Escrituras não aprovam, e, além disso, elas têm muita preocupação acerca do espírito com o qual se entra numa discussão. Ninguém deve discutir por discutir. Sempre devemos lamentar essa necessidade; mas, embora lamentando-a e deplorando-a, quando virmos que um assunto de vital importância está em perigo, devemos engajar-nos na discussão. "Devemos lutar zelosamente pela verdade", e o Novo Testamento nos conclama a fazer isso. O apóstolo Paulo mostra gratidão aos membros da igreja de Filipos, e dá graças a Deus por eles, porque tinham perseverado com ele desde o principio "na declaração e na defesa da verdade". E não há nada que seja mais completamente contrario ao método do novo Testamento que dizer: "Sejamos positivos, esqueçamos os termos negativos, jamais discutamos estas coisas".
Enquanto os homens e as mulheres não tiverem claro entendimento da verdade, enquanto forem tendentes a deixar-se levar pelo que é falso, devemos contender pela verdade, devemos engajar-nos no tipo de argumentação ilustrado nos versículos que estamos considerando. Devemos saber por que Paulo agiu dessa forma. E me parece que aí temos as razões pelas quais ele o fez.
Exposição de Romanos v. 3 – Editora PES – Autor D. Martyn Lloyd-Jones – p. 140 -142.
Postado por Flávio Teodoro
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